Uma vida inteira dedicada aos excluídos

Dom Aloísio Lorscheider foi arcebispo de Fortaleza por 22 anos, conquistando o respeito e o carinho dos cearensesNeto de alemães, Dom Aloísio Lorscheider nasceu na Linha Geraldo, interior do município de Estrela, Rio Grande do Sul, a 8 de outubro de 1924. É filho de José Aloysio Lorscheider e de Verônica Gerhard Lorscheider. Já aos nove anos tomou a decisão de ser padre, entrou para o seminário, em Taquari (RS), estimulado pelos pais e sua ascensão na Igreja foi meteórica.Foi ordenado sacerdote a 22 de agosto de 1948. Membro da Ordem dos Franciscanos Menores (OFM), ordem fundada por São Francisco de Assis (1181-1226). No dia 20 de maio de 1962, recebeu a ordenação Episcopal, aos 37 anos de idade, na Catedral de Porto Alegre. E, aos 52 anos de idade, no ano de 1976, Dom Aloísio recebeu do Papa a investidura do cardinalato. Foi membro da Comissão Teológica da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, e depois primeiro Secretário da mesma Conferência até ser eleito Presidente, por duas vezes, em pleno período da ditadura militar.Carismático e firme na defesa da justiça e dos mais humildes, as características desse gaúcho descendente de alemães era a fala mansa e os gestos angelicais. Não admitia interferências, de quem quer que fosse, em sua cruzada pelos direitos humanos.Velho conhecido dos generais da ditadura, travou uma luta incansável pela redemocratização do Brasil e pelo fim das torturas. Nem bombas caseiras atiradas no jardim de sua casa, em Fortaleza, foram impedimentos para que ele continuasse na luta.No início dos anos 70, os latifundiários do Ceará conheciam sua fama de progressista e já esperavam enfrentar problemas quando dom Aloísio tornou-se arcebispo de Fortaleza. Ainda ficaram surpresos com incansável campanha promovida por ele em favor da reforma agrária e pelo fim dos conflitos de terra no Estado.Naquela época, estava em sua primeira gestão como presidente da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), onde ficaria até 1979. Mas nem o importante cargo que ocupava evitou que sofresse toda sorte de represálias.O enfrentamento aos poderosos da região renderam ao bispo incontáveis ameaças de morte e dois cachorros envenenados. Em outra ocasião, três homens armados tentaram entrar em seu quarto, porém foram descobertos a tempo.No fim de 1972, no decurso da XIV Assembléia do CELAM foi eleito vice-presidente deste organismo, sucedendo pouco depois a Dom Eduardo Pironio, na Presidência do órgão. Presidiu em 1979 o Encontro dos Bispos da América Latina em Puebla-México. Arcebispo Emérito desde 2004, Dom Aloísio Lorscheider dedicou-se, ainda, a escrever textos que abordavam a questão da terra, os direitos humanos, a ética e o combate à pobreza e da ética.Apesar de ganhar o coração do povo cearense e torna-se quase uma unanimidade nacional entre os leigos, o cardeal gaúcho não se esquivou de provocar polêmicas com a ala mais conservadora da Igreja. Um desses momentos, foi quando se mostrou favorável à ordenação dos padres casados. Mas dom Aloísio enfrentou os percalços da vida sempre com a firmeza e a mansidão dos justos. Doutorou-se em Teologia Dogmática, em 1949, pela Pontificium Athaeneum Antonianum, universidade franciscana de Roma, onde também deu aulas até 1962. Ajudou a escrever um documento divulgado pela CNBB, em 1968, que pedia a volta do “funcionamento do Executivo, Legislativo e Judiciário, com a elaboração de uma Constituição eficaz”.Depois de permanecer durante 22 anos (de 1973 a 1995) como arcebispo de Fortaleza, dom Aloísio segue em 1995, então com 74 anos, para Aparecida do Norte (SP). Lá, mesmo como arcebispo emérito, desde 2004, não parou. Visitava com constância as paróquias, participava das celebrações e, quando sobrava algum tempo, gosta de acompanhar os fiéis. Ao longo de toda a vida, o pastor foi incansável. No dia 8 de outubro deste ano, dom Aloísio completou 83 anos de vida bem vivida.
"É necessário persistir na organização e orientação das CEBs. Elas são o modo de ser Igreja hoje""Todas as pessoas de boa vontade, podem construir uma sociedade justa"Dom Aloísio LorscheiderArcebispo emérito

Fonte: Diário do Nordeste