domingo, 27 de fevereiro de 2011

Dentes perfeitos para rir à vontade

Infelizmente, não contamos com incisivos de roedores, que crescem à medida que se desgastam. Nós, humanos, só temos duas dentições: a de leite, até os 6 anos, e a permanente, que se completa, aos 17 anos ou mais, com os populares “dentes do juízo”, ou sisos. Ao longo da vida, nossa dentição, junto com os demais componentes da boca, terá de rasgar, esmagar, triturar e começar a digerir de 25 a 30 toneladas de alimentos. Suportará centenas de agressões e terá de enfrentar o constante ataque de bactérias que aderem à superfície para formar primeiro a placa dental, e depois o duro tártaro: em 1 g de placa arrancada do sulco gengival existem até 100 milhões de bactérias de 500 espécies diferentes – “especialistas em sobrevivência”, segundo a expressão dos odontólogos americanos Walter Loesche e Erika De Boever, da Universidade de Michigan.
Alguns desses indesejados inquilinos bucais aproveitam qualquer ocasião para crescer de forma desmedida e liberar ácidos que literalmente dissolvem o esmalte da capa mais externa do dente, formada pelo tecido mais duro e mineralizado do corpo. O resultado dessa ação é um ponto de cárie que, se não for tratado, pode destruir o esmalte, perfurar a dentina e invadir a polpa. Para prevenir essa fatal decomposição, certos componentes da saliva, como as imunoglobinas, a mucina, o fosfato, a uréia e o bicarbonato, têm uma ação antibacteriana, neutralizam a acidez e remineralizam o esmalte. De fato, uma das funções vitais dos 27 mil litros de saliva que produzimos em nossa existência não é outra senão preservar os tecidos bucais.
Que falta eles fazem
A constituição genética, que torna certas pessoas mais suscetíveis a ter problemas dentais, e um estilo de vida impróprio prejudicam a saúde bucal. Precisaríamos de uma terceira dentição para assegurar, até a velhice, a integridade de oito incisivos, quatro caninos, oito pré-molares e 12 molares, que configuram nossa arcada.
Estima-se que metade dos adultos brasileiros apresente uma perda dentária grave – ou seja, possui menos de 20 dentes funcionais. Entre os idosos, a taxa sobe para 70%, segundo Maria Ercilia de Araújo, chefe do Departamento de Odontologia Social da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo (USP). Fora o desconforto estético e a dificuldade de processar os bocados de comida, a falta de dentes dificulta a correta pronunciação das palavras e, desse modo, a comunicação oral.
Felizmente, essa lamentável situação não é irreversível. Nossos avós não contaram na infância com informação nem meios e serviços sanitários e higiênicos suficientes para manter sorrisos perfeitos até a velhice. “Embora ainda seja um problema sanitário, a saúde dental dos brasileiros melhorou bastante nos últimos dez, 15 anos”, diz Maria Ercilia. É o que indica, por exemplo, o número de cáries em crianças de até 12 anos. Em 1986, as crianças apresentavam de 6 a 7 dentes atingidos por cárie. Em 1996, esse número caiu para 3,4 e, atualmente, é de 3,1. O ganho de qualidade pode ser creditado à água que abastece várias cidades. Hoje, 48% dos municípios brasileiros têm a água tratada com flúor.
Porém, se a cárie em crianças diminuiu, as patologias periodontais continuam críticas em adultos e idosos. O fato de possuir gengivas avermelhadas, inflamadas, hipersensíveis e sangrentas constitui um mau augúrio. A gengivite – inflamação das gengivas – pode com o tempo degenerar em doenças mais graves, de acordo com Julio Galván, presidente da Sociedade Espanhola de Periodontia e Osteointegração (Sepa). O especialista se refere à periodontite avançada, que se manifesta com o agravamento da gengivite. A inflamação atinge o osso da gengiva, o que faz com que os dentes percam o suporte e, por fim, caiam.

Bactérias perigosas
Infelizmente, os problemas dentais não ficam circunscritos aos domínios da boca doente. Recentes pesquisas apontam a existência de uma perversa relação entre as infecções periodontais e o maior risco de sofrer doenças cardiovasculares, especialmente infarto do miocárdio, e cerebrovasculares, como ataques de apoplexia. Por exemplo, um informativo publicado no final de 2002 na revista Stroke, da Associação Americana do Coração, dizia: “Entre os homens que, no início da pesquisa, tinham menos de 25 dentes, o risco de sofrer um infarto era 57% mais elevado do que entre os que conservavam um maior número de peças dentais”. No Brasil, um estudo feito pelo Instituto do Coração (InCor) mostra que 78% das endocardites bacterianas são causadas por problemas bucais não tratados, como gengivite, periodontite e abscessos.
Outros estudos indicam que as bactérias periodontais provocam nas gengivas a liberação de diversas citocinas – por exemplo, a proteína C reativa. Esses produtos do sistema imunológico passam ao sangue com as bactérias e estimulam a adesão das plaquetas, o crescimento das chamadas células espumosas e o aumento de colesterol na capa íntima arterial. Tudo isso, em conjunto, acaba favorecendo casos de aterosclerose e trombose. Outras pesquisas relacionam as infecções gengivais às complicações ligadas ao nascimento (como bebês prematuros e de baixo peso), aos problemas respiratórios (doença pulmonar obstrutiva crônica) e à ocorrência de diabetes de tipo II.
Por enquanto, as bactérias dentais atuam com total impunidade e de maneira clandestina no organismo. Mas uma equipe de pesquisadores da Universidade de Aichi, no Japão, afirmou ao Journal of Periodontology que, dentro de alguns anos, os médicos poderão detectar as doenças periodontais encobertas nas análises de sangue rotineiras. “Depois de estudar a saúde bucal de 7 452 pacientes e compará-la com suas análises sanguíneas, verificamos que se o colesterol, os triglicérides, a glicose, a contagem de glóbulos brancos e o nível de proteína C reativa se afastavam dos valores-padrão, o paciente também tinha sintomas sérios de doença periodontal”, disse Yuko Takami, que coordenou o estudo.
Em contraste com a dificuldade de combater essas bactérias no corpo está a simplicidade de métodos para evitar as infecções dentais que as produzem: consultas periódicas ao dentista, higiene bucal correta e dieta adequada. São poucos ainda os que seguem à risca as recomendações. Pesquisa feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta que só 10% dos brasileiros visitam de forma regular o consultório odontológico e 20% da população urbana e 32% da população rural nunca foram ao dentista. Dos adultos que já fizeram consultas odontológicas, 40% não vão ao dentista há mais de três anos.

Cuidados desde a infância
Os exames periódicos devem se iniciar na infância, antes mesmo da erupção do primeiro dente. O dentista, além de controlar o desenvolvimento bucal do bebê, informará aos pais sobre os cuidados que devem ter com os filhos. Isso inclui a prevenção da chamada “cárie de mamadeira”, que aparece pela exposição freqüente e prolongada a líquidos açucarados (leite, água adoçada, sucos), o uso e a retirada da chupeta, a aplicação adequada de flúor e a correta limpeza dos dentes.

Limpeza eficiente
A maneira mais simples de prevenir a formação da placa e do tártaro é o uso diário da escova de dente e do fio dental
Uso correto da escova de dente
1. Incline a escova em um ângulo de 45º e escove deslizando desde a gengiva até a ponta dos dentes.
2. Mantenha movimentos circulares (nunca para a frente e para trás) em pequenos grupos de dentes. Escove dessa forma a face voltada para as bochechas, a face interna e a superfície de mastigação.
3. Escove suavemente a língua.
Uso correto do fio dental
1. Corte cerca de 45 cm de fio dental e reserve de 3 a 5 cm para passar entre os dentes.
2. Siga com cuidado a curva dos dentes.
3. Limpe por debaixo da gengiva, mas não force demais o fio contra ela.
Fonte: Revista Super Interessante
 

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