terça-feira, 17 de agosto de 2010

Uma polêmica que passa pela torneira

Em um vídeo postado no YouTube, o dentista norte-americano Bill Osmunson contesta o uso do flúor no abastecimento público de água. Segundo o líder da Fluoride Action Network (algo como Rede de Ação contra o Flúor), o produto – utilizado em escala mundial para combater a cárie dentária – seria pouco eficiente e ainda poderia causar doenças como a fluorose dentária, problemas ósseos e até ocasionais envenenamentos. Mas a discussão é antiga. Vem desde a década de 1940, quando o flúor passou a ser usado em cidades americanas e depois se espalhou pelo mundo.
Mas ao contrário do que profetiza Osmunson, a presença do fluoreto (íon de flúor) na água é amplamente recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). De acordo com um relatório do Ministério da Saúde, dezenas de estudos brasileiros e internacionais apontam que a fluoretação da água reduz, em média, 60% a ocorrência de cárie dentária. Por isso mesmo a legislação do país obriga as concessionárias de abastecimento a adicionar o flúor na água tratada. Contro lada, a quantidade do químico deve se situar na faixa entre 0,6 e 1,5 miligrama por litro.
Para o presidente da Associa ção Brasileira de Odontologia (ABO), Newton Miranda de Carvalho, teorias e pesquisas são bem-vindas. No entanto, ele descarta riscos para a saúde pública. “O que nós sabemos é que o flúor é reconhecido e recomendado pela Federação Dentária Inter nacional (FDI)”, reitera. Além de estar presente na água tratada, a substância também é encontrada na maioria dos cremes dentais. Em alguns países, inclusive, a fluoretação acontece no sal de cozinha. Não é o caso do Brasil.
De acordo com Carvalho, as pesquisas que apontam para a redução da incidência de cárie nas populações – principalmente as mais carentes – por causa do flúor vêm de longa data. “Ai de nós se não fosse o flúor. Temos um grande contingente de dentistas no país, mas eles estão geograficamente mal distribuídos e a maioria da população não tem acesso aos serviços de saúde”, comenta.
 
Fluorose
Apesar da pouca probabilidade, a fluorose pode sim ocorrer. A doença é causada pelo excesso de flúor, principalmente durante a fase de formação dos dentes (na infância), que podem ficar com o esmalte esbranquiçado. Nos casos mais graves, o esmalte adquire uma coloração marrom e há comprometimento da estrutura dentária. “Temos raros casos de fluorose. Isso ocorria há muito tempo, quando não se conhecia a dosagem. O que não pode é usar o flúor indiscriminadamente, sem conhecimento”, explica Carvalho.
Além do creme dental e da água, os alimentos também são fontes de flúor. Mas a quantidade total ingerida para causar algum problema teria de ser muito alta e constante, conforme explica o presidente da ABO. “A margem de segurança é muito grande. Agora, o que existe por trás dessas polêmicas, fora os cientistas bem intencionados, são interesses comerciais de empresas que, muitas vezes, vendem produtos com flúor e gostariam que a água não fosse fluoretada”, critica. De acordo com o especialista, até mesmo os cremes dentais (que possuem concentração maior de flúor), quando ingeridos, raramente fazem mal.
 
Menos de R$ 1 ao ano
A Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar) gasta quase R$ 670 mil por mês para fluoretar a água em todo o estado. Desse valor, R$ 157 mil são gastos com o material; R$ 108 mil vão para despesas operacionais; e R$ 402 mil são consumidos na análise da água. O processo parece dispendioso, mas acaba saindo por menos de R$ 1 por habitante/ano.
De acordo com Carlos Eduar do Pierin, gerente da Unidade de Avaliação de Conformidades da Sanepar, o monitoramento dos padrões é feito de hora em hora nas estações de tratamento e uma vez por mês na rede de distribuição. A empresa divulga em seu site (www.sanepar.com.br) um boletim com as médias – por cidade – das últimas 30 análises de água. Atualmente, 98,9% da população atendida pela companhia recebe água fluoretada.
Como a temperatura do ar é importante para determinar a quantidade de fluoreto a ser colocado na água, a Sanepar estabelece um teor – que vai de 0,6 a 1,1 mg/litro – conforme as médias de temperatura do estado, variando de acordo com a região. Em Curitiba, por exemplo, o teor ideal de flúor na água é de 0,7 a 0,9 mg/litro. “Como a variação de temperatura não é significativa, essa média é usada para o ano todo”, explica Pierin. Segundo ele, a porcentagem de flúor que sai da estação de tratamento é a mesma que chega na casa do consumidor, sem perdas.
 
Fiscalização
Responsável por fiscalizar o índice de flúor na água da cidade, a prefeitura de Curitiba monitora mensalmente 67 pontos na capital. “A maioria das análises tem se mantido dentro do estabelecido. Por vezes você encontra alguns níveis abaixo ou acima. Mas garanto que os níveis acima são muito pequenos”, esclarece Lúcia Araújo, coordenadora de Vigilância em Saúde Ambiental da Secretaria Municipal da Saúde. Quando encontra irregularidades, a prefeitura avisa a Sanepar.
Fonte: Gazeta do Povo/Dental Press

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