domingo, 22 de novembro de 2009

Cirurgia pode ser necessária em 50% dos casos de apneia

A intervenção cirúrgica é recomendada em 50% dos casos de apneia obstrutiva do sono - um distúrbio onde a pessoa pára de respirar por pelo menos 10 segundos, mais de cinco vezes por hora. A controversa opinião - que é considerada exagerada por especialistas brasileiros - é de um dos maiores especialistas no assunto, o presidente da Academia Internacional de Ronco e Apneia do Sono, Tucker Woodson.
Woodson desenvolveu uma técnica de reconstrução da faringe, onde reposiciona os tecidos de forma a desobstruir as vias aéreas. A cirurgia consiste em avançar o palato e a faringe para a passagem do ar por trás. O índice de sucesso é de 70% nas formas leves e moderadas. Nos casos graves - onde o indivíduos faz mais de 30 apneias por hora - essa taxa cai muito.
É por este motivo que os especialistas brasileiros preferem tentar outras alternativas antes indicar a cirurgia. " A precisão dos exames e do diagnóstico é muito importante para auxiliar na técnica adequada, para que a cirurgia seja realmente efetiva", avaliou Woodson.
Para ele, o uso do CPAP - máscara de plástico que faz uma pressão contínua nas vias aéreas impedindo a obstrução - é eficaz "quando a pessoa usa realmente o CPAP a noite toda". Nos Estados Unidos, afirmou, existe uma resistência cultural à utilização da máscara.
Ao contrário do que dizem estudos mais recentes, Woodson afirma que muitos casos podem ser tratados apenas com cirurgia bariátrica ou perda de peso. A gordura acumulada na garganta pode obstruir a passagem de ar.
O presidente do Congresso, o otorrinolaringologista Helio Fernando de Abreu, discorda. Segundo ele, as apneias provocam um desequilíbrio hormonal que aumenta a fome e reduz a sensação de saciedade do indivíduo, levando-o a engordar.
Em sua opinião, a intervenção cirúrgica em 50% dos casos também é exagerada. "Tem que se escolher muito bem o paciente que vai ser operado, ele tem que ser quase um personagem ideal dos livros de medicina. Nos Estados Unidos existe uma tradição de querer operar tudo e tem coisas que a gente sabe que não vai dar certo", disse ele.
A apneia é um distúrbio neuromuscular, que pode ser causado por vários fatores. É mais comum em homens com mais de 40 anos, quando a musculatura da garganta vai se afrouxando e os sensores da mucosa não funcionam mais tão bem. A obstrução pode estar em qualquer lugar das vias aéreas superiores: na laringe, na faringe, no nariz ou no posicionamento da língua.
Há casos de pacientes que chegam a ter cerca de 800 apneias durante a noite sem despertar. Num senso de autopreservação, o organismo se protege fazendo com que o indivíduo não atinja os níveis mais profundo do sono.
O principal sintoma nos adultos é o cansaço no dia seguinte. O sono fragmentado provoca sonecas involuntárias durante o dia. O ronco é um sinal de alerta. "Existem pessoas que roncam e não têm apneia, mas não há um apneico que não ronque", afirmou Abreu.
Woodson acredita que o número de mulheres com o distúrbio é muito subdimensionado. Elas podem desenvolver a doença, principalmente depois da menopausa, quando aumentam os níveis de testosterona, o principal hormônio masculino, mas o diagnóstico é mais difícil.
"Elas não tiram muitas sonecas, mas sentem fadiga. Além disso, os homens não são tão observadores quanto elas. Os maridos muitas vezes não percebem que a mulher têm apneia ou, quando percebem, não dão a devida importância", disse ele.
No caso das crianças, a cirurgia cura 84% dos casos. A retirada do excesso de carne nas adenóides ou das amídalas é a operação mais comum. Os sintomas também são diferentes. Em vez de dormirem mais, é comum que as crianças com o distúrbio desenvolvam transtorno de déficit de atenção, hiperatividade, baixo desempenho escolar e crescimento abaixo do normal.
Woodson ressaltou a importância de que a cirurgia seja feita com a técnica adequada, escolhida após exames detalhados de polissonografia e sonoendoscopia. Na polissonografia, de quatro a seis pares de eletrodos monitoram o paciente durante toda uma noite de sono e dá o diagnóstico preciso da quantidade e gravidade das apneias - se são parciais ou totais.A sonoendoscopia, pouco difundida no Brasil, é um exame de vídeo onde consegue se verificar onde está a obstrução com uma precisão de até 90%.
Fonte: Estadão/Dental Press

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