quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Avançam as pesquisas sobre células-tronco na área de Odontologia

Para obter as células-tronco, o tecido de interesse como a polpa ou o ligamento periodontal são removidos e enzimas são aplicadas para separar as células umas das outras. O último passo é afastar as células-tronco das demais que compõem o tecido.
O isolamento de células-tronco a partir de tecidos dentais começou em 2000, com trabalho do professor australiano Stan Gronthos. Três anos mais tarde, a mesma equipe identificou a presença de células-tronco também em dentes de leite. Tecidos como ligamento periodontal e papila apical - tecido presente na formação da raiz do dente - também estão entre as populações dentais pesquisadas posteriormente para obtenção de células-tronco.
No ano de 2004, uma equipe do King's College, chefiada por Paul Sharpe, conseguiu construir um dente no rim de um camundongo, utilizando somente células durante o processo. Material de medula óssea foi empregado neste experimento, tido como um marco na odontologia moderna por mostrar a possibilidade de criar um dente a partir de tecidos não dentais.
Segundo a professora Andrea Mantesso, células-tronco dentais em geral já foram empregadas em trabalhos de engenharia tecidual em órgãos não dentais. "Já se mostraram eficazes na recuperação de isquemia cardíaca e de danos na retina, além da produção de células neurais contra doenças neurológicas e musculares no combate a distrofias", afirma Andrea.
Mantesso, disse ao jornal Metro que a principal vantagem de se trabalhar com esse tipo de célula-tronco, além do custo menor, é o fácil acesso aos tecidos dos dentes de leite “As células de dente de leite parecem crescer mais rápido que as de dentes permanentes e podem se diferenciar (se especializar) em células formadoras de dentes, neurônios, de gordura e até de outros tecidos do corpo”, disse Andrea.
O uso de dentes nas pesquisas com células-tronco ganham cada vez mais importância no meio científico, no Brasil e no exterior. Pesquisadores explicam que sua capacidade de proliferação é considerada grande, bem como o seu potencial de se diferenciar em tecidos parecidos com o adiposo e o nervoso.
A geneticista Mayana Zatz, professora do Departamento de Biologia do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP) e pró-reitora de pesquisa na instituição, considera o dente como um “material genético de fácil acesso que pode salvar vidas”. Em entrevista, Mayana considerou que cientistas brasileiros, em vários grupos, estão pesquisando células-tronco adultas retiradas de tecido adiposo, cordão umbilical e polpa dentária “com resultados promissores”. Ela mesma utiliza células-tronco de dentes em suas pesquisas. Segundo a geneticista, com recursos da bioengenharia, e no próprio consultoria odontológico, será possível extrair algumas células de dentes dos pacientes e dar-lhes dentes novos. Os tratamentos endodônticos e periodônticos também seriam beneficiados.
A Faculdade de Odontologia da USP irá desenvolver um laboratório para pesquisa e cultivo de células-tronco este ano com populações dentais diversas, desde dentes de leite até tecidos como o ligamento periodontal, conector do dente aos ossos da boca. Em parceira com King's College de Londres em cinco projetos de pesquisa com células-tronco dentais, a faculdade deverá contar com novo centro este ano. A especialista e professora de ambas instituições Andrea Mantesso, coordenadora do projeto, afirma que as pesquisas na área avançam a passos largos.
"Já é possível gerar outros tecidos dentais ou mesmo dentes inteiros a partir de células-tronco", explica Andrea, em entrevista. "Uma população de células-tronco dentais não servem para qualquer aplicação, mas são extremamente promissora para os tecidos que são capazes de formar."Células-tronco de tecidos dentais possuem aplicação limitada por não serem pluripotentes como aquelas obtidas a partir de embriões.
Célula-tronco originária de polpa dentária trata lesão ocular
O Instituto Butantã, em São Paulo (SP), mostrou que células-tronco extraídas da polpa do dente de leite podem recuperar a visão de pacientes com lesão na córnea. A descoberta consta de trabalho científico realizado pela biomédica Bábyla Geraldes Monteiro, que avaliou a capacidade da atividade de células-tronco retiradas da parte interna de dentes de leite para tratar uma lesão em olhos de coelhos. A idéia é reconstruir a córnea para, dessa maneira, restaurar a visão.
Com base nesse trabalho, e em parceria com a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), o Instituto Butantã pretende iniciar uma série de testes em humanos. Foram recrutados voluntários que já passaram por cirurgia sem resultados satisfatórios e que não podem receber enxertos de tecidos nem apresentem quadros infecciosos. Os resultados desses testes devem sair esse ano, quando a técnica poderá ser liberada para a população, caso seja devidamente aprovada.
Em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo, Bábyla Monteiro declarou que “o tecido da córnea precisa ser constantemente renovado, pois as células se desgastam como as da pele”. No entanto, quando a região límbica (que fica em volta da córnea) é afetada por um trauma ou uma doença, a córnea perda a capacidade de regeneração e se torna opaca, comprometendo a visão. As células límbicas podem ser transplantadas do olho saudável do próprio paciente, mas quando o problema afeta os dois olhos, é preciso recorrer a um doador, com riscos de rejeição. “Com as células-tronco de dente de leite esse risco é menor”, explica o oftalmologista da Unifesp José Álvaro Pereira Gomes, co-autor do estudo.
Pela pesquisa do Butantã, sabe-se agora que as células da polpa do dente de leite são incorporadas ao tecido ocular do paciente. Elas são colocadas com uma espécie de membrana originária de um material semelhante à placenta. Uma vez instaladas, elas se adaptam e passam a atuar como as células límbicas, reconstruindo a córnea lesionada. “Pessoas que sofreram lesões na região límbica por trauma, queimaduras térmicas ou químicas, ou até as que realizaram um transplante de córnea em que houve rejeição, poderão ser tratadas”, observa a pesquisadora Bábyla Monteiro.
Fonte: Site farol comunitário, Revista ABO Nacional, Folha de S.Paulo, Metro, e G1

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