quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Perdas dentárias atingem quase 40% dos adolescentes brasileiros

Segundo estudo feito a partir da análise de dados coletados de pesquisa epidemiológica em saúde bucal realizada em 2003, em âmbito nacional, 38,9% dos adolescentes brasileiros com idade entre 15 e 19 anos têm, pelo menos, uma perda dentária. Divulgados pelo Ministério da Saúde, os dados originais foram interpretados pelos dentistas Paulo Roberto Barbato e Marco Aurélio Peres, da Universidade Federal de Santa Catarina. A prevalência de falta de dentes, situação que pode afetar a auto-estima e a qualidade de vida dos jovens, é ainda mais acentuada em regiões do país em que a água distribuída não é fluoretada – os índices de perda dentária, nesse caso, são 40% maiores se comparados aos das localidades em que o mineral flúor, de efeito preventivo contra a cárie, é adicionado à água disponível para consumo.De acordo com o Ministério de Saúde, uma das linhas de ação da principal política nacional de saúde bucal, o “Brasil Sorridente”, criada logo após a divulgação dos dados epidemiológicos em 2003, é justamente a viabilização da adição de flúor a estações de tratamento de águas de abastecimento público.Ao que indica o trabalho catarinense, estão no Nordeste as mais claras evidências de associação entre consumo de água sem flúor e o alarmante número de perdas dentárias na população jovem. Como base para essa conclusão, foram analisadas as avaliações da arcada dentária de 16.833 adolescentes em todo o país. O resultado do trabalho foi publicado este mês na Revista de Saúde Pública. Em 92,71% das perdas dentárias, a ocorrência de cárie havia sido a causa.Na relação que foi estabelecida entre índices socioeconômicos, demográficos e de saúde bucal, os autores constataram que a evolução da cárie até a perda do dente foi mais frequente em regiões mais pobres do país. Ao contrário, quando houve perda por outros motivos que não a destruição localizada de tecido dentário em decorrência da ação de bactérias, o perfil do adolescente avaliado era: cor da pele branca (60%), renda per capita mensal maior ou igual a R$ 200 (35,1%), ausência de atraso escolar (58,6%), usuário de serviços privados de atendimento odontológico (45,1%) e morador de municípios onde havia disponibilidade de flúor na água de abastecimento (67,7%).“Estes dados reforçam a característica desigual na distribuição da cárie dentária e, consequentemente, das perdas dentárias”, consideram os autores do trabalho. Apesar de os números serem sugestivos e saber-se que, de fato, o flúor protege a dentição, Barbato e Peres lembram que o estudo não desenvolve uma relação de causa e efeito entre a ocorrência de perda de dentes e o consumo de água enriquecida com o mineral. “A pesquisa não foi delineada para esta finalidade, e, sendo assim, não seria possível determinar quais são os indivíduos expostos e os não expostos a esta medida. Além disso, não foram coletadas informações sobre outras medidas de acesso ao flúor, como utilização de dentifrícios fluoretados ou outras fontes de fluoretos”, dizem.De acordo com informações da assessoria de imprensa da Associação Brasileira de Odontologia, os profissionais membros defendem firmemente que o flúor seja adicionado a todos os sistemas de abastecimento de água potável no país. Os dentistas, entretanto, parecem estar batendo na porta errada. Em dezembro último, uma reivindicação foi feita na Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul, o estado brasileiro com quarto maior índice de desenvolvimento humano (IDH), enquanto que, seguindo o caminho do estudo da UFSC, a necessidade primordial de implantação da medida está no Nordeste: adolescentes nordestinos residentes em cidades sem fluoretação de águas apresentaram uma prevalência de perdas 63% maiores que aqueles que residiam em municípios com a medida.

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